Inventário de Armário 101

Há um ano atrás, eu me preparava pra minha décima-primeira mudança. Sim, em 40 anos de vida, já me mudei 11 vezes. Só que essa última foi diferente de todas as outras 10. Eu estava cansada de carregar tanta coisa de um lado pro outro, sem refletir sobre a utilidade de cada item, cada peça, e estava determinada a expurgar do meu armário tudo aquilo que não tivesse utilidade de fato. Foi aí que me propus a fazer meu primeiro inventário real de armário. Eu já havia “ensaiado” isso quando comecei a estudar sobre Armário Cápsula, selecionando até 33 peças-chave que me serviriam por uma estação – 3 meses – conforme ensina o Project 333. A ideia era aprender a viver com menos, com um armário otimizado. O problema que vi ao aplicar o método na minha vida é que nem tudo o que visto pro trabalho, uso no meu dia off. Daí, não conseguia me manter dentro das 33 peças possíveis, que incluíam até os cachecóis e pares de sapatos. Mas nenhum conhecimento se perde.

Você pode me perguntar pra quê fazer inventário, se preocupar com limpeza, se não se muda com frequência e tem o maior closet do mundo. Eu te digo que o inventário é fundamental pra você conhecer as possibilidades de tudo aquilo que está no seu armário. Quando você se der conta de todas as opções que já estão ali, isso vai te permitir fazer compras mais acertadas, adquirindo peças e acessórios que vão trazer equilíbrio pro conjunto todo. Quando você for comprar, vai buscar corrigir deficiências, vai saber exatamente o que falta e o que sobra. Vai somente investir naquilo que fará diferença no teu armário, que traduzirá teu estilo. Outro ponto importante é a visualização da quantidade de roupas que você tem. Isso impacta muito, acredite em mim. Ver a pilha real de tudo o que você possui vai mudar a sua ideia sobre comprar sem parar pra pensar nas suas reais necessidades.

Se não tem bom caimento, a roupa não deverá ficar no teu armário.

E por onde começar? Bom, minha sugestão (e de outras musas inspiradoras da organização, como a Marie Kondo) é tirar tudo o que está no seu armário e colocar em cima da sua cama. Tudo. Cada peça de roupa. E o fato de estar tudo em cima da sua cama vai fazer com que você só pare quando acabar, porque, no final do dia, vai precisar de um lugar livre pra dormir (ótimo incentivo, né?). Você vai avaliar cada peça e decidir em que pilha ela deve ser colocada: o que você vai manter, porque usa mesmo, o que você vai doar/vender, porque não usa mais, o que você vai guardar, porque tem uma ligação emocional àquela peça, e o que você tem dúvida, não sabe bem o que fazer com aquilo. Sugiro, ainda, uma boa trilha sonora e, quem sabe, uns bons drinks pro processo ser mais divertido.

As peças que você pretende manter são aquelas que sempre são usadas, que estão contigo em tudo quanto é ocasião. Em geral, só de olhar pras bichinhas, você logo já se lembra de mil combinações e possibilidades. Elas são as “pernas” do seu armário; ele só caminha porque elas estão ali. Com essas peças, basta dar uma olhada e verificar se elas estão em boas condições, se não necessitam de conserto, além de confirmar que elas te servem mesmo. Nessa pilha, não vale colocar nada que não seja do tamanho correto pra você; sem essa de “guardar porque vou perder peso”. Aqui só fica o que está servindo e sendo usado mesmo.

Meu garage sale antes da mudança de Barcelona.

Na segunda pilha são colocadas todas as peças que não te servem, não estão com bom caimento, não traduzem mais teu estilo, não são usadas há pelo menos 2 anos (se nesse tempo você não usou a bichinha nem uma vez, quais são as chances dela nos próximos 2?). Tudo que entrar aqui terá duas possibilidades, venda ou doação. Avalie e veja se a peça está em boas condições pra venda ou não. No meu caso, organizei uma “garage sale” (venda de garagem) com tudo aquilo que estava praticamente novo no meu armário, fosse roupa, sapato ou bolsa. Fotografei tudo, coloquei preço, enviei pros amigos, marquei o horário das compras. E foi um sucesso! No final, tudo aquilo que não foi vendido foi destinado para doações. Se você não quer organizar uma lojinha em casa, há a possibilidade de venda pela internet, com páginas especializadas. O site enjoei.com , por exemplo, é uma plataforma que funciona como um brechó virtual, onde você anuncia tudo o que quer vender. É fácil de administrar e a grana é certa, basta que as peças estejam em bom estado. Uma outra opção é chamar as amigas e amigos pra uma espécie de troca-troca. Cada um traz o que não quer mais e tem a chance de levar uma coisa nova pra casa, sem que isso envolva dinheiro; o descarte de uns é tesouro pra outros.

Tudo aquilo que não está em boas condições jamais deve ser simplesmente jogado fora. Não se esqueça de que toda peça de roupa demandou recursos, energia, o trabalho de pessoas e, acima de tudo, custou dinheiro que você ganhou. Aquilo que você não quer mais, porque já está velho e não está legal pra ser vendido ou doado, deve ser levado para um ponto de coleta de roupas para reciclagem, para que sua vida útil seja estendida, para que tudo simplesmente não pare num lixão. Já existem umas quantas opções de pontos de coleta no Brasil e em outras partes do mundo. Dois exemplos são as Lojas Renner, no Brasil, e as lojas & Other Stories, em algumas cidades do mundo (Barcelona, Nova Iorque, Copenhague, Seul, só pra citar algumas). Em alguns casos, as lojas que realizam este tipo de serviço oferecem descontos para futuras compras em troca das roupas velhas recebidas.

A terceira pilha, aquela da ligação emocional, não deve ser muito grande (a não ser que você tenha espaço pra inaugurar um museu). Aqui vai ficar aquela camiseta usada no primeiro show de rock da tua vida, o par de sapatos que teu pai te deu de presente quando você completou 18 anos, o vestido da formatura, só pra citar alguns exemplos de possíveis “tesouros”. Eu mesma, quando fiz meu inventário, me deparei com uma camisa que comprei no Brasil, na companhia da minha mãe, no meio do processo de tentar engravidar. Quando comprei, já me imaginava dentro dela, com a barriga grande, toda plena. Foram duas tentativas sem sucesso e a camisa ficou no armário, usada apenas duas vezes em 3 anos. Na hora de me despedir da peça, não consegui deixá-la ir; ela se transformou numa espécie de símbolo da minha tentativa de me tornar mãe, do processo doloroso de tentar engravidar e não conseguir, do meu amadurecimento com tudo isso. Resultado: arrumei um cantinho pra esse pedacinho significativo de mim, da minha história. É mais ou menos isso o que você deverá avaliar antes de decidir guardar algo que não consegue descartar.

Lola tentando ajudar.

A pilha da dúvida, nossa última, não deverá permanecer por mais de uma semana sem destino. Sugiro que você deixe as peças bem à vista, no meio do quarto ou da sala, te incomodando, pra que não haja procrastinação quanto à tomada de providências. Ás vezes, tudo o que você precisa é de um pouco mais de tempo pra pensar sobre a função de uma roupa ou outra, e é pra isso que essa pilha existe. Confesso que prefiro lidar de cara com a definição das coisas todas de uma só vez, mas sei que há aquelas pessoas mais apegadas aos seus pertences, aos objetos de toda uma vida. No problem. Take your time. Mas não demore muito pra se decidir. No final, elas retornam pro armário, são vendidas/doadas ou seguem pra reciclagem.

Ao final do processo, digo pra vocês, a primeira sensação foi de alívio por ter acabado o inventário. Processei muitos sentimentos enquanto fazia a limpeza e me dei conta de tudo o que possuía. Me arrependi de umas quantas aquisições, fiquei contente ao descobrir que acertei muito ao comprar peças de qualidade, que servem de base pro meu armário, mas o melhor de tudo foi entender o que era meu estilo, observando bem a pilha número 1.

E você? Que tal começar o ano com uma faxina dessas, uma oportunidade de se conhecer mais, de compreender melhor quem você é, observando o que está no teu armário? Deixa a preguiça pra lá e faça um inventário já!

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