Fiz um caminho bem perigoso e explico o porquê. Cresci numa família média: pai, mãe, duas irmãs e eu, com a grana sempre contada. Não sei porquê, mas desde criança eu já queria um acessório diferente, uma roupa que não passasse batida. Com uns 6 anos, enlouqueci minha mãe ao pendurar duas molas de colchão nas minhas orelhas. Eu não queria mais usar as argolinhas douradas e delicadas que tanto a minha mãe, quanto as minhas irmãs usavam. Começava ali a minha caminhada rumo a descobrir o que era estilo, moda, identidade. Aos 16 anos, já com cabelo curto Joãozinho, criava meus próprios acessórios, reciclando coisas antigas ou comprando peças pra criar brincos, colares e pulseiras novas. Aos 18 anos, com a primeira bolsa de estágio, corri pra uma das lojas mais estilosas de Volta Redonda, minha cidade natal, pra comprar uma calça e duas camisetas da Triton. E foi aí que começou o meu downfall: gastei quase o valor total da bolsa de estágio numa calça jeans e duas camisetas de malha. Eu queria consumir moda com estilo, mas não medi as consequências.
10 anos depois, eu era uma pessoa quebrada financeiramente, com um armário cheio de roupas (algumas delas ainda com a etiqueta da loja), transbordando sapatos e bolsas, e que trabalhava para pagar juros de cartões de crédito e empréstimos. E, apesar dos armários cheios, nunca estava satisfeita com o que eu tinha. Saí do buraco financeiro graças a minha família e ao meu (hoje) marido. No meio daquela enorme quantidade de coisas, eu sempre precisava de mais uma peça, um vestido, uma bolsa, um novo par de sapatos, porque não conseguia abrir meu armário e ver tudo o que eu tinha de maneira clara e limpa. Era tudo literalmente amontoado entre gavetas, prateleiras e cabides. Uma lástima. Um desperdício de dinheiro e energia. Além disso, havia o compra-compra por conta da ansiedade que só crescia, ao ver as dívidas e não enxergar o que eu tinha. Nas várias mudanças de apartamento ao longo da minha vida, foram vários armários trocados, muitas caixas e sacolas de roupas para serem vendidas em brechó ou para doação.
Eu comprava para me encontrar, mas eu não tinha dado um passo que considero o mais importante de todos: descobrir quem eu era, qual a minha identidade. Quando você começa a se descobrir e a se entender, suas escolhas começam a ficar mais claras. Quando você não sabe quem é ou tenta ser alguém que não é, a tendência é consumir demais, de maneira equivocada, pelos motivos errados. É possível ter um armário com a minha cara, com estilo, sem exageros. E também é possível ter tudo isso e uma conta bancária no azul. Mas o primeiro passo foi mergulhar em mim mesma e descobrir o que me motivava, do que eu não gostava, que imagem que eu tinha de mim. O “sistema”, o mundo cão capitalista, a indústria têxtil, quer que você compre sem parar, consuma tudo e muito, sem pensar, para ter um armário cada vez mais cheio e repita sempre que não tem o que vestir. Minha sugestão: simplesmente pare, vá para o espelho e perceba não só suas curvas (ou falta delas). Comece a se perguntar quem você é, onde quer chegar, do que você gosta, o que te inspira, que imagem quer buscar. É fácil? Claro que não! Demorei 30 anos da minha vida pra começar a fazer as perguntas que me levariam ao ponto que cheguei hoje: alguém que sabe admirar tudo o que está disponível no mercado, mas só leva pra casa aquilo que de verdade traduz meu momento, me cai bem, me permita ver a pessoa que eu sou. E isso não tem preço.